Por Marcelo Correia
Há alguns anos atrás, assisti uma palestra sobre qualidade de vida, na empresa em que trabalhava. Lembro do palestrante iniciar sua fala com 3 perguntas:
- O que é mais importante na sua vida?
- Se você soubesse que hoje seria seu último dia de vida, com quem você passaria este dia?
- Onde você imagina estar quando precisa se sentir seguro?
Um auditório lotado o ouviu e respondeu 3 perguntas da mesma forma: Família, família, família.
Fiquei impressionado com a resposta uníssona de todos (inclusive a minha). Na mesma hora, eu me desconectei e me fiz a seguinte pergunta: “Se já sabemos a resposta, quanto tempo realmente gastamos com o que nos importa, com quem amamos?”
Uma questão que acaba passando pela forma como definimos o que é prioridade e como gerimos nossa energia. De tão marcante, passei a usar como um termômetro para minha vida.
Trazendo a questão para os dias de hoje, grande parte da população adulta no Brasil tem suas 24hs alocadas ao sono, tarefas domésticas, jornada de trabalho, etc. E boa parte de nós consegue encontrar algum tempo livre no dia. Mas será que utilizamos este tempo de uma forma sadia?
Há anos, o Brasil figura entre os 5 países com maior população online e, em 2020, ficamos em 2º lugar em ranking mundial de países onde as pessoas gastam mais tempo conectados na internet diariamente (4,8hs/dia).
Paralelamente, desde 2017, Brasil tem sido o país com o maior número de casos de transtorno de ansiedade no mundo, segundo a OMS. E, de acordo com uma pesquisa recente feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), este quadro ainda se agravou. A pesquisa revelou que 80% de nossa população se tornou ainda mais ansiosa na pandemia (Em média, em outros países, o índice foi de 30%).
Entendo que estes são temas complexos e seria necessário uma pesquisa mais aprofundada para uma correlação. Mas a impressão é de que “a conta não fecha”. Entendemos o que é mais importante mas não direcionamos tempo para isto.
Já temos um dia cheio, amassado pela rotina de trabalho e a energia que resta no final do dia, gastamos conectados e ansiosos com o que vamos fazer amanha. Vivemos uma “pandemia do pensamento”, frequentemente alertados por nossa mente e, cada vez menos, focados no presente e no que nos é essencial.
Somos notificados a todo momento sobre novos conteúdos, acontecimentos, mensagens em nossas caixas de email. E o tempo de abracar nossos filhos, de dar um beijo bom em quem amamos acaba sempre ficando para o amanha. Aquele amanhã que nunca chega.
Por experiência pessoal, entendo que o dilema entre “o que entendo ser mais importante” vs “Como divido meu tempo entre minhas prioridades” é desafiador para todos. A rotina nos “abraça” de um jeito que é difícil reagir. Entramos num automático e acomodamos a sensação de incômodo.
Mas se você se sente desta forma, eu lhe faço a mesma pergunta: “Quanto tempo você gasta com quem você ama?”
Caso você não goste da resposta, sugiro que separe algum tempo do seu dia pra se desconectar. Ainda que por alguns minutos, o importante é criar a consciência do desequilíbrio e da necessidade de construir uma mudança que caiba em sua vida.
Neste momento, faça qualquer coisa que lhe deixe em um estado de presença para ti e para quem você ama, como um exercício diário.
Chamamos esse tempo aqui em casa de “happy hour”. Toda noite, separamos um tempo para nos escutarmos, falamos de nosso dia e amenidades. Ficamos ali, presentes um para o outro.
Não é fácil. Pelo contrário, é extremamente desafiador manter este tempo de qualidade sem interferência. Mas, seja na medida que for, vale a pena.
Marcelo Correia – Pai de Liz e Júlia, esposo da Ari, cantor, compositor, escritor infantil e graduado em Administração. Depois de 10 anos de experiência no mundo corporativo, Marcelo decidiu abandonar sua carreira de executivo em uma multinacional, após um quadro de Síndrome de Burnout, para se dedicar a sua saúde, família e ao sonho de viver de arte. Inspirado nesta mudança e no nascimento de sua filha, lançou seu projeto artístico no final de 2019 falando sobre Autoconhecimento, Paternidade e a Masculinidade Saudável. Desde então, Marcelo tem realizado palestras e lançado canções com o propósito de inspirar pessoas a refletirem sobre seu Bem-estar e sobre suas relações com trabalho, família e comunidade.